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Rémiges cansadas

cortesia Brotéria © António Jorge Silva

Imagens da cortesia Brotéria © António Jorge Silva.

Rémiges Cansadas, 2024 Cabos náuticos, fumo,
luz, chumbo, voz [excertos do poema O País de Deus (inédito). Daniel Faria, 1991]
Dimensões variáveis

Galeria Brotéria

Rémiges Cansadas, 2024 Nautical cables, fog,
light, lead, recording [excerpts from the poem
O País de Deus (unpublished). Daniel Faria, 1991]
Variable dimensions

Galeria Brotéria

Texto folha de sala / Álvaro Moreira

Rémiges cansadas é o terceiro e último momento de uma circunspeção de Samuel Silva em torno da poesia multidimensional de Daniel Faria — Escuto o calcanhar do pássaro (Galeria Kubik, 2021) e Levitação (Casa da Arquitectura de Matosinhos, 2021).
A metáfora inscrita no título, retirado de um verso do poema O país de Deus, define-se no elementar paradoxo entre a função primordial das rémiges (penas de voo), estruturas rígidas e assimétricas que garantem a propulsão, direção e sustentação do voo das aves e cansadas como adjetivo de uma ação que perdeu vitalidade por intemperança de empenho e desencanto na ausência de resposta.
O poema-objeto O País de Deus, um rolo de papel com cerca de 40 metros de extensão escrita, guardado num pote cerâmico e nunca tornado público, constituiu o substrato reflexivo que esteve na base da definição conceptual e estética proposta, suportada nas referências significantes das paisagens íntimas do poeta.
Cabos de navios, fumo e luz dão corpo a uma atmosfera turva que potencia a ambiguidade de um elemento escultórico suspenso, em chumbo, cuja morfologia poderá insinuar uma cóclea — estrutura helicoidal recôndita associada ao sistema auditivo e ao equilíbrio do corpo.

Nesta neblina oceânica interpela-se uma escuta profunda, sentires infinitos, longas comoções que atuam para além da simples visão que se constrói entre o observador e o lugar, tal como o mar dentro do búzio.

— Álvaro Moreira

[ING]

Rémiges Cansadas is Samuel Silva’s third
and final moment of attention devoted to the multidimensional poetry of Daniel Faria
— Escuto o calcanhar do pássaro (Galeria Kubik, 2021) and Levitação (Casa da Arquitectura
de Matosinhos, 2021).

The title’s metaphor, taken from a verse of the poem O País de Deus, is defined by a paradoxical relationship between the primordial function of the rémiges (flight feathers), rigid and asymmetrical structures that ensure propulsion, direction and lift in flight for birds, and cansadas (tired), an adjective which describes an action’s loss of vitality due to inordinate commitment and disenchantment in the face of an absence of response.

The poem-object O País de Deus, a scroll of paper measuring approximately 40 meters
in length, which was kept in a ceramic pot and never made public, was the reflexive basis for the conceptual and aesthetic definition proposed by this exhibition, supported as well by significant allusions to the poet’s intimate landscapes.

The ship cables, smoke and light create a cloudy atmosphere that enhances the ambiguity of a suspended sculptural element made of lead, whose morphology might suggest a cochlea
— a hidden helical structure involved in hearing and associated with the body’s balance.

Amidst this oceanic mist we are called to listen attentively, to experiment a lingering impression and vast motions that go beyond the visual relation built between the observer and the site. Such as with the sea inside a shell.


— Álvaro Moreira

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