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O futuro começa sempre já hoje e exige um labor profundamente diligente.

[Texto integrado na exposição do 1º Simpósio de Escultura em Gesso Cartonado, Salão Nobre da Junta de Freguesia do Bonfim, Porto, 2010]

 

Só os sonhos movem o mundo inconformado de uma minoria e o imaginário de quem não se reconhece no que existe.

Parados no início do século XXI, ligamos a televisão e ouvimos: mais emigração jovem, envelhecimento cavalgante, desemprego, pobreza, indigência, a natureza humana outra vez periclitante, mais uma vez, cada vez pior.

Por consequência, as representações do povo deverão ser urgentes e inadiáveis, nos seus vários tipos sociais, profissionais ou associativos. Especialmente as representações artísticas colectivas que podem e devem ser protagonistas na causa pública, na sua emergência e vitalidade comunitária.

 

Assim se enrodilha a presente exposição.

 

Uma associação de pessoas com práticas criativas, inquietações poéticas, geografia e pulsar comum reuniram-se para partilhar as suas ideias no Salão Nobre da Junta de Freguesia do Bonfim. Todos elas sócias d´O Praça da Alegria Futebol Clube que, conjuntamente, comemora 40 anos de constância, firmeza e, portanto, história.

 

De características multifacetadas e transdisciplinares, as obras irão (pre)ocupar temporariamente a sala da democracia, permitindo-nos assim pensar, de uma forma mais ou menos aprofundada, a propósito do lugar da arte na sociedade contemporânea, da relação desta com os vários tipos de poder que a confrontam e da capacidade da experiência artística – entendida na sua essência como uma actividade fundamental da cidadania – para confrontar esses poderes.

 

Todos sabemos que um objecto artístico exposto não oferece mais do que uma experiência singular, onde se convoca liminarmente a nossa desordem (recordações, anseios, desejos e vontades), mas devemos acreditar que é no abeirar do que é estranho e esquivo que podemos mais facilmente superar preconceitos ou ideias pré-estabelecidas.

Afinal o objectivo derradeiro da arte é o de não mudar a ordem das coisas, até porque elas mudam sozinhas e a toda a hora. O seu intento mais conseguido será sim, mostrar ou tornar visíveis realidades normalmente ignoradas e com isso formar consciências mais livres e independentes.

 

Não nos esqueçamos, porém, que a exclusão (ou auto-exclusão), a que se têm votado muitos autores e práticas criativas marginais, lhes confere muitas vezes um poder extraordinário por não verem as suas acções controladas pelos mecanismos institucionais, nem pela discussão pública.

 

O futuro começa sempre já hoje e exige um labor profundamente diligente no nosso lugar, evidentemente, com o Mundo no olhos.

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