biography
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Repetidamente

[Texto para a folha de sala da exposição de Joana Costa na Biblioteca Municipal Almeida Garrett, Porto, 2012]

 

Uma vez li uma frase de Peter Roehr que me ficou no coração: “I change material by repeating it unchanged. The message is the behaviour of the material in response to the frequency of its repetition.” Nesta frase Roehr sintetizava todo um corpo de obra obsessivamente dedicado à repetição, numa prática demonstrativa de que é possível alterar a nossa percepção de um acontecimento apenas pela sua organização

repetitiva espacio-temporal. O próprio Deleuze, sobre este assunto, fala-nos da ideia algo paradoxal de que o grau máximo da diferença é o que existe na repetição de formas idênticas, residindo assim na repetição o motor da diferença.

Será por dentro desta moldura que gostaria de introduzir o trabalho artístico de Joana Costa: a repetição.
De feições multifacetadas, o trabalho desta jovem artista, surge de um trânsito permanente entre vários territórios e linguagens plásticas — som, escultura, fotografia, video e, de forma mais recorrente, typus-montagem. Independentemente das matérias, suportes e temas identificamos uma metodologia de trabalho invariante, diria mesmo uma espécie de modus operandi muito particular onde radica todo o seu centro especulativo conceptual. Este tem que ver com uma tendência obsessiva por colocar determinadas unidades (imagens, sons ou objectos) em sequências padronizadas, combinando estrategicamente ferramentas de modelação/transformação como: rotação, inversão, reflexão, justaposição ou fragmentação, para a construção de todo um manancial de novos e complexos universos que (momentaneamente) se desvinculam da sua origem primordial, garantindo a construção de novos quadros referenciais em cada solução plástica.

Para esta exposição, Joana Costa apresenta um conjunto de trabalhos que se inscrevem na tradição do Typus-montagem, na qual esta artista tem mais recentemente desenvolvido investigação. Tratam-se de painéis de grandes dimensões onde a autora convocando as palavras de Fernando Pessoa — “Tudo isso faz um cansaço, este cansaço, cansaço” — carimba-as repetida e frenéticamente num mesmo suporte reclamando pela perseverança do gesto os limites da exaustão. Talvez venha a propósito nos tempos que correm reiterar repetidamente o sentido de: fadiga, esgotamento ou prostração…

 

Porto, 2 Maio de 2012 Samuel J. M. Silva

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